(English translation below)
Essa semana vi duas peças aqui em Lisboa, com propostas completamente diferentes. Faz tempo que não ia ao teatro - em Teerã, só há um e, naturalmente, as peças lá são em farsi... e censuradas. Por isso, ter um leque amplo de escolhas como existe em Lisboa é um sopro de ar fresco.
A primeira foi "As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos", da Companhia Teatral do Chiado. Pensei que ia ver algo erudito, evocando os melhores textos do Bardo... surpresa total, a peça é um escracho, teatrão popular! Trata-se de um dos maiores sucessos dos palcos portugueses - está em cartaz desde 1998, ou seja, há 12 anos -, adaptação do original norte-americano. É uma farsa, cheia de metalinguagem, sobre uma compilação (em 97 minutos) de TODOS os textos de Shakespeare, encenada por três atores (muito bons) e cenografia mínima. Para mim, que gosto do Bardo e li algumas das peças mas nunca fui um especialista - longe disso -, me diverti pra caramba. Devolve as peças de Shakespeare a seu verdadeiro dono, o público, e não a Academia. Recomendo a qualquer um que visite Lisboa - mas compre o bilhete com antecedência, pois, 12 anos depois, a peça ainda enche a casa.
A outra peça que vi vai no sentido oposto - "Neva", da Companhia chilena Teatro en el Blanco. Nada de comédia aqui - trata-se de teatro político, brechtiano, pesado mesmo, novamente com três atores e palco quase nu. O texto parte de uma proposta interessante - o ensaio de uma peça de Olga Knipper, viúva do célebre Anton Tchecov, em meio à Revolução Russa de 1905, em São Petersburgo. Confuso? Um pouco, mas instigante. O autor faz um comentário sobre o papel do teatro diante de um mundo caótico e da revolução - comparando, segundo o folheto da peça, a Rússia de 1905 com o Chile de 1973. Calma aí... -, fazendo uma pergunta que passa na cabeça de qualquer artista que se digna a esse nome: vale a pena pensar em arte quando o povo tem fome? Os atores estão bem, mas a peça dá voltas e voltas antes de chegar a este ponto, chega a cansar. Mas vale a pena - a pergunta é muito pertinente, especialmente porque diz respeito à própria platéia que assiste ao espetáculo: o que é a cultura diante de um mundo de miséria? Um prazer burguês ou a redenção da alma?
O riso e o drama... como as máscaras do teatro.
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This week I saw two plays here in Lisbon, with completely different concepts. It has been a long time I had had not gone to the theater - in Tehran, there´s only one theater, and, naturally, all plays there are in Farsi... and censored. Therefore, it is a breath of fresh air to have the varied choice of plays you find in Lisbon.
The first one was “The Complete Works of William Shakespeare in 97 minutes”, of the Companhia Teatral do Chiado. I thought I was going to see something high-cultured, evoking the best texts of the Bard... to my surprise, it was a total riot, popular theater! It´s one of the biggest hits in the Portuguese stage - it´s been playing since 1998, that is, for 12 years -, an adaptation of an American play. It´s a farce, full of self-references, based on a compilation (in 97 minutes) of ALL the works of Shakespeare, with three actors (very talented) and minimal cenography. To me, who likes the Bard and has read some of his plays but is not a specialist - far from that -, it was a great time. It brings Shakespeare back to his true owner, the public, not the academicians. I recommend it to anyone that visits Lisbon (just buy the ticket in advance, for after 12years they still manage to fill the house).
The other play I saw goes the opposite way - “Neva”, of the Chilean company Teatro en el Blanco. No comedy here - it´s political theater, Brechtian, heavy stuff, again with three actors and an almost empty scene, but different results. The text has an interesting starting point - the rehearsal of a play by Olga Knipper, the widow of famed Anton Checov, in the midst of the Russian Revolution of 1905, in St. Petersburg. The author talks about the role of theater in a chaotic and revolutionary world - comparing, according to the leaflet, 1905 Russia and 1973 Chile. Wow, slow down... -, asking himself a question that any artist worthy of his name has thought about: does it matter to think about art when there is hunger in the streets? The cast is fine, but the play goes round and round before getting to the point, it gets tiresome after a while. But it´s still worth it - the question is very pertinent, especially because it involves the spectators of the play: what is culture amidst a world in misery? A bourgeois distraction or the redemption of the soul?
Comedy and drama... like the masks of Theater.
Assisti algo parecido a essa primeira aqui - "The Complete Works of William Shakespeare", by the Reduced Shakespeare Company. É uma que tem Otello como rap, Titus Andronicus como show de cozinha e todas as comédias em uma só? If so, mesma coisa, realmente muito bom!
ResponderExcluirEu já vi os 97 minutos umas 4 vezes e continuo rindo muito! Imagina, essa peça estreou na minha adolescência... ahahahah. Que bom que vc está curtindo o meu país. Beijão, Jenny
ResponderExcluirEm tua próxima ida ao teatro, sugiro que veja algo da Barraca!
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