(English translation below)
Eu acredito na cidade.
Não creio que ela pode ser domada e compreendida inteiramente. Mas ela pode ser estudada, vivida, amada, creio que alguém pode amá-la e odiá-la simultaneamente, com a mesma intensidade. Ela pode não conter a solução de tudo, mas, nela, tudo pode ser solucionado.
Cada cidade possui sua própria gramática, sua própria sintaxe, vocabulário, ortografia. Para experimentá-la, você deve apenas se esforçar. Acima de tudo, você deve OUVIR.
Ouça não apenas seus sons, mas suas imagens, cheiros, contradições e ambiguidades, dê a ela seus olhos e ouvidos; não tema julgá-la, mas esteja preparado para mudar de idéia a qualquer momento.
Você não conhece a gramática da cidade?
Ouça suas pessoas, pois elas podem ensiná-lo a pronúncia correta das palavras. Da carne do povo foram construídos os tijolos dos prédios, de seu sangue a química da cidade elaborou o cimento que prende tudo no lugar.
Todos os parques, estações de ônibus, bares, ruas pavimentadas e de paralelepípedos, escolas, prostíbulos, igrejas, mesquitas, cinemas, casas e apartamentos, grandes e pequenos, foram feitos daquela carne e sangue.
Você não conhece a gramática da cidade? Você deve OUVIR!
Esta cidade, por exemplo: duzentos e cinquenta anos atrás, terra, água e fogo foram invocados por algum Deus Ancião para derrubá-la, matar seu povo, afogar suas palavras e frases e transformar sua linguagem em letra morta. Ele quase conseguiu.
Das cinzas, porém, a cidade sobreviveu. Seu povo se reergueu, e, com ele, as ruas e prédios feitos de sua carne e seu sangue. Alguém disse para enterrar os mortos e cuidar dos vivos, e, ainda que triste, isto foi feito.
Duzentos e cinquenta anos depois, a cidade persiste, viva, contraditória, uma língua viva.
Você não pode escutá-la? Você deve OUVIR!
I believe in the city.
I don´t think it can be tamed and fully understood, no. But it can be studied, lived, ultimately loved, I believe one can love and hate the city simultaneously, with the same intensity. It may not hold the solution to everything, but, in it, everything can be solved.
Each city has its own grammar, its own syntax, vocabulary, ortography. To experience it, you just have to make an effort. Most of all, you have to LISTEN.
Listen not only to its sounds, but to its sights, smells, contradictions and ambiguities, lend it your eyes and ears; fear not passing judgment about it, but be prepared to change your mind in a moment´s notice.
Do you not know the grammar of the city?
Listen to its people, for they can teach you the correct pronunciation of the words. From the flesh of the people the bricks of the buildings were built, from their blood the chemistry of the city has concocted the plaster to hold everything together.
All the parks, bus stations, bars, cobbled and paved streets, schools, whorehouses, churches, mosques, movie theaters, houses and apartments, big and small, were made from that flesh and blood.
Do you not know the grammar of the city? You have to LISTEN!
Take this city, for example: two hundred and fifty years ago, earth, water and fire were summoned by some Ancient God to tear it down, kill its people, drown its words and sentences and turn its language into a dead one. It almost succeeded.
From the ashes, though, it has survived. Its people have risen, and, with them, the streets and buildings made of its flesh and blood. Someone said to bury the dead and take care of the living, and, sad as it was, this was done.
Two hundred and fifty years later, the city lingers on, alive, contradictory, a living language.
Can you not hear it? You have to LISTEN!
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