Quem sou eu

Lisboa - Lisbon, Portugal

quarta-feira, 23 de junho de 2010



acordei com esta idéia na cabeça: os portugueses têm medo de serem felizes. Parece uma frase de efeito e talvez o seja, mas é verdade, e repito para ênfase: os portugueses têm medo de serem felizes. São gente simples e trabalhadeira, até pronta para um sorriso e um gesto de amigo, mas se recolhem no instante seguinte e ficam a mirar a janela, como se mirassem o mar, esse avatar que os acompanhou durante a vida e a história inteira. Falam duas ou três frases nessa língua bela que é o português e ficam a mirar a janela, como se pudessem ver dias melhores que nunca virão.


eu não sei. Estou aqui não faz um mês e não sei de nada, mas acordei com esta idéia na cabeça. É como se o português nos tivesse dado vida, aos brasileiros e aos africanos, e nós os tivéssemos redimido logo em seguida. É uma idéia tonta, lógico, havia brasileiros e africanos antes da chegada dos lusos, mas é como se um não pudesse viver mais sem o outro, sem a idéia do outro. Hoje ouvi um homem de Guiné-Bissau dizer que, quando saiu de seu país para ir a Portugal, a Guiné ainda era província portuguesa. Por isso, não se sentia, como até hoje não se sente, um emigrado, mas um “reintegrado”. Era como voltar pra casa? Mas como falar isso a um povo que viveu 400 anos sob dominação colonial e 13 anos de guerra aberta e sangrenta (os africanos lusófonos), ou a outro que se desgarrou de Lisboa há 170 anos (os brasileiros)? São como caravelas de uma esquadra que se perdeu no mar revolto, escarpado, triste da história.


O português sorri, fala duas ou três frases nessa língua bela que é o português e fica a mirar a janela, com medo de ser feliz.


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I woke up with this idea in my head: the Portuguese are afraid to be happy. It sounds like an easy phrase for impact, and maybe it is, but it´s true and I repeat it for emphasis: the Portuguese are afraid to be happy. They are a simple and hardworking people, even ready for a smile and a friendly gesture, but they keep it to themselves and keep looking out the window, as if they stared at the sea, that avatar that accompanied them all their life and history. They say two or three sentences in that beautiful language that is Portuguese and keep staring out the window, as if they could see better days that will never come.


I don´t know. I haven´t lived here even for a month yet, but I woke up with this idea in my head. It is as if the Portuguese have given us life, to Brazilians and Africans, and we have redeemed them afterwards. It´s a silly concept, of course, there were Brazilians and Africans before the arrival of the “Lusos”, but it´s as if one could not live anymore without the other, without the concept of the other. Today I heard a man from Guine-Bissau say that, when he left his country for Portugal, Guine was still a Portuguese province. Therefore, he did not feel, and he does not feel today, an expatriate, but a “reintegrated” citizen. Was it like coming back home? But how to tell that to a people that lived 400 years under colonial domination and 13 years of open and bloody war (the Portuguese-speaking Africans), or to a people that has separated itself from Lisbon 170 years ago (the Brazilians)? They are like ships of a fleet that have been separated and lost in the violent and sad sea of History.


The Portuguese smiles, says two or three sentences in that beautiful language that is Portuguese and stares out the window, afraid of being happy.

Um comentário:

  1. talvez porque para ser feliz seja preciso uma dose de coragem, algum desprezo, uma certa senvergonhice. talvez.

    se feliz não é algo bem comportado.

    beijo

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