(English translation below)
Outro dia me peguei olhando aborrecido para as palavras num livro, todas aquelas palavras que só faziam sentido com muito esforço, construções absurdas saídas da mente de um louco, decifrar pequenos garranchos que se combinam e se desfazem, apenas 24 símbolos para desvendar um fluxo interminável de idéias que passam pela cabeça, chega a ser um atrevimento tentar reduzir a realidade a combinações de 24 garranchos. Eu acho.
Daí, comecei de leve a inventar outras letras. Inteligentes são os chineses, que escrevem em ideogramas: são necessários pelo menos 5.000 ideogramas para começar - começar! - a escrever mandarim. Língua é isso - não é pra ser simples, é pra transmitir a idéia certa. Eu nunca vou transmitir a idéia exata com apenas 24 garranchos.
As primeiras letras saíram meio tortas, mas depois fui aprimorando. Uma parece uma águia de cabeça pra baixo, a outra um torcedor do Grêmio com dor de barriga.
A letra A, mesmo, eu fiz quinze variações, cada uma para simbolizar um A (o “ah!” de surpresa, o “aaaaah” de resolver as palavras cruzadas, o “ah” de abrir a boca no dentista e “a”ssim por diante) diferente.
Hoje inventei uma letra pra simbolizar a menina que fica sentada na praia no domingo de manhã, sozinha, com o vento balançando os cabelos, ouvindo as ondas quebrando. Mas pra essa eu vou ter que criar um alfabeto inteiro.
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The other day I caught myself staring at the words in a book, all those words didn´t make any sense without a lot of effort, a bunch of strange constructions born out the mind of a madman, no use in deciphering a bunch of little scribblings that combine and come apart, just 24 symbols to unravel the endless flux of ideas that pass through your head, it´s preposterous to try to reduce reality to combinations of 24 scribblings.
Therefore, I slowly started to invent other letters. The Chinese are the ones that know about things, they write in ideograms: it´s necessary at least 5.000 ideograms to begin - begin! - to write Mandarin. That´s how a language is supposed to be - it´s not meant to be simple, but to transmit the right idea. I would never be able to transmit the exact idea I have in mind with only 24 scribblings.
The first letters came out a little crooked, but I got better with time. One of them looks like an upside-down eagle, the other a Manchester United fan with stomach ache.
For the letter A, for instance, I came up with fifteen variations, each one representing a different kind of A (the “ah” of surprise, the “aaaah” of solving crossword puzzles, the “ah” of opening your mouth at the dentist and so on).
Today I invented a letter to represent the girl that sits by the beach on a Sunday morning, all by herself, with the wind stroking her hair, listening to the waves breaking at the shore. But for that one I will have to create a whole alphabet.
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